A Revolta dos Malês foi uma das inúmeras lutas pela liberdade, dos negros escravizados durante o Período Regencial (interregno entre a abdicação de D. Pedro I e o chamado “Golpe da Maioridade”, quando seu filho D. Pedro II teve a maioridade proclamada – 1831 a 1840). O levante ocorreu na cidade de Salvador – BA, entre os dias 24 e 25 de janeiro de 1835 (no fim do mês sagrado do Ramadã), há exatos 190 anos.
Está disponível no AtoM, acrônimo de “Acesso à Memória”, um software de fonte aberta, gratuito, para pesquisa, o conjunto documental constituído por seis maços de registros sobre a Revolta dos Malês. Os documentos são preservados e custodiados pelo Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), unidade da Fundação Pedro Calmon (FPC/SecultBA).

O fato, relembrado até hoje, é emblemático, e registros históricos preservados ao logo desses anos, reforçam a importância da Revolta dos Malês, levante que segundo historiadores, reuniu cerca de 600 negros e foi composto por escravizados africanos de várias etnias, com protagonismo de nagôs (também conhecidos como iorubas) e participação de hauçás ou haussaás.

Os documentos digitalizados pelo APEB são referentes ao maço 2846, do Acervo Colonial, composto por amostras do Processo crime conta José, de nação Nagô, escravo do cidadão francês Ges de Carter, onde se tem uma breve descrição da revolta iniciada na noite do dia 24 e dissipada na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. “Este processo crime é interessante, pois indica a reverberação da Revolução Francesa influenciando os ideais da Revolta dos Malês”, sinaliza a Coordenação de Preservação do APEB.

O diretor do Arquivo Público, Jorge Vieira, destaca: “A documentação referente à Revolta dos Malês custodiada no APEB é de extrema importância na salvaguarda da nossa memória ancestral; encabeçada por escravizados de origem muçulmana, foi um levante que reuniu revoltosos de diversas etnias africanas e também inspiradas pelos ideais ecoados da revolução francesa como mostra os processos que compõem este conjunto documental. Uma outra característica interessante é a existência de documentos escritos em árabe, praticamente todos trazendo trechos do Alcorão como orações e mensagens de proteção”.

O conjunto documental consiste em seis dossiês/processos, além de Sumário sobre apreensão de mais de duzentos negros novos que chegaram às praias de Itapuã por contrabando, e encontravam-se nas terras do Réu José Raposo Ferreira.
Toda documentação da Série REMA – Revolta dos Malês estão digitalizadas e disponíveis no Atom através do ACESSE!
