O cineasta Cacá Diegues faleceu, nesta sexta-feira (14), aos 84 anos, após “complicações cardiocirculatórias” enquanto aguardava uma cirurgia. A informação foi confirmada pela Clínica São Vicente, onde ele estava internado. O velório foi marcado para acontecer neste sábado (15), na Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual Cacá era imortal. Na sequência, o corpo do diretor será cremado na região do Caju, bairro do Rio de Janeiro.
O diretor é considerado um dos nomes mais importantes do cinema nacional, sendo um dos fundadores do movimento Cinema Novo. Com um legado marcado por mais de 20 longas-metragens e uma carreira recheada de premiações e reconhecimento internacional, uma de suas obras está ao ar na TV Globo, com a reprise da novela Tieta, que é ambientada na Bahia.
Início da trajetória
Carlos José Fontes Diegues nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 19 de maio de 1940, mas se mudou para o Rio de Janeiro com apenas 6 anos, onde passou a infância e adolescência. Foi nesse ambiente carioca que Cacá se encantou pelo cinema e ao lado de outros cineastas renomados como o baiano Glauber Rocha, Leon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade, se tornando um dos pilares da criação do Cinema Novo.
O movimento, que revolucionou o cinema brasileiro nas décadas de 1950 e 1960, teve como principais características a busca por uma narrativa que refletisse as realidades sociais e políticas do Brasil, com uma linguagem mais próxima da realidade do povo. A marca registrada de Diegues foi seu compromisso com essas causas, tanto nos aspectos estéticos quanto nos temáticos.
Sucessos e consagração no cinema nacional
Seu primeiro sucesso veio em 1964 com Ganga Zumba, mas foi Os herdeiros (1969) que o colocou definitivamente no cenário nacional. A década de 1970, então, foi um período de grande produção, com Xica da Silva (1976) sendo um dos maiores sucessos de sua carreira. O filme, que retratava a história de uma escrava que se torna amante de um poderoso homem branco, fez história, sendo um dos filmes mais assistidos da época.
Já Bye Bye Brasil (1980), outro de seus grandes sucessos, abordava o deslocamento de uma trupe de artistas pela região Norte e Centro-Oeste do Brasil, retratando a transição social e cultural do país.
Em 1996, o diretor foi responsável por adaptar a obra de Jorge Amado, Tieta do Agreste, para os cinemas. O longa, gravado na Bahia, foi protagonizado pela atriz Sônia Braga e conta a história de Tieta, que, 26 anos após ser expulsa de casa pelo pai, volta à cidadezinha de Santana do Agreste, transformando completamente a vida da pacata cidade do interior baiano. O sucesso da produção, tanto nacional como internacional, fez com que o longa concorresse ao Oscar de Melhor Filme Internacional, mas acabou ficando de fora da lista final de indicados. A história de Jorge Amado também teve uma adaptação para as novelas, e está sendo exibida no Vale à pena ver de novo da emissora.
Outro grande destaque de sua carreira foi Deus é Brasileiro (2003), que trazia uma abordagem original e divertida sobre a busca de Deus por um substituto para seu lugar enquanto ele está de férias. A produção é estrelada pelo baiano Wagner Moura, com Antônio Fagundes no papel de Deus, se tornou um dos maiores clássicos do cinema nacional.
O último trabalho de Cacá Diegues foi O grande circo místico (2018), coprodução entre Brasil, Portugal e França, que fez sucesso nos maiores festivais de cinema do mundo, como Cannes e Veneza, onde recebeu aplausos de pé por quase 10 minutos.
Reconhecimento e homenagens
O cineasta foi amplamente reconhecido ao longo de sua carreira, recebendo, por exemplo, o Grande Prêmio de Cinema Brasileiro em 2012. Sua produção cinematográfica foi uma verdadeira crônica do Brasil, abordando questões sociais, culturais e políticas de maneira envolvente.
Em 2016, Cacá foi homenageado pela escola de samba Inocentes de Belford Roxo, que levou para a avenida o enredo “Cacá Diegues – Retratos de um Brasil em cena”. O cineasta, emocionado, desfilou no último carro e expressou sua felicidade por ser homenageado por uma escola de samba, definindo aquele momento como um “grande encontro familiar”.
Em 2018, Cacá Diegues foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira sete, antes pertencente ao cineasta Nelson Pereira dos Santos, seu amigo. Esta eleição reforçou ainda mais sua importância não apenas para o cinema, mas também para a cultura brasileira em geral.